Um mestre e seu discípulo caminhavam na beira da praia, próximos a uma rua movimentada, cheia de carros e pedestres. Num determinado momento, o mestre viu um caranguejo que caminhava sobre o acostamento do asfalto. Imediatamente, o mestre dirigiu-se ao caranguejo e olhou para ele. O discípulo foi pego de surpresa e não entendia a intenção do mestre.
O mestre então abaixou-se e tentou pegar o caranguejo com a mão, mas percebeu que seria uma tarefa difícil pois o caranguejo fugia ou tentava “abocanhar” seu dedo a cada tentativa. O mestre ficou meio agachado, rodeando o caranguejo por todos os lados, tentando fazê-lo parar de fugir, mas ele teimava em fugir e atacar.
A essa altura, alguns transeuntes observavam a cena de longe e muitos riam ao ver um homem correndo atrás de um caranguejo. O discípulo, tomado pelo sentimento de raiva, não sabia se observava as tentativas do mestre ou olhava para as pessoas a rirem, pensando no que dizer para que elas se afastassem e deixassem o mestre fazer seu trabalho em paz. A dúvida também o atormentava: O que será que o mestre quer com um caranguejo?
O mestre então tirou a camisa e jogou-a sobre o caranguejo. Pegou a camisa com o caranguejo dentro e dirigiu-se à praia. Lá chegando, ainda sob os olhares de muitas pessoas, colocou o caranguejo próximo à água. O caranguejo ainda o olhou “armado”, pronto para atacar. Depois virou-se e dirigiu-se à água.
O mestre voltou da praia e muitas das pessoas já haviam parado de olhar a cena. O discípulo veio correndo ao encontro do mestre e, curioso, perguntou:
- Mestre! Porque fizeste isso? Sei que não é uma emoção boa de se ter, mas morri de raiva com as pessoas rindo do senhor.
- Meu filho! – respondeu o mestre – Muito bom que as pessoas riam da bondade e caridade humanas. Lamento apenas que, por falta de prática, não tenhamos tantos motivos para rir assim.
O discípulo refletiu sobre as palavras ditas e, num súbito, passou a sentir uma angústia irreparável. Uma sensação de peso, como se alguém muito querido estivesse doente e um sentimento de impotência o tomasse como uma torrente de cachoeira caindo sobre sua cabeça. Vários pensamentos de situações em que ele percebeu, em milésimos de segundo, como as pessoas estavam agindo no dia-a-dia, mas que, talvez por falta de vontade, ele quis entender aquilo como natural, pois era tão comum que não podia ser tão errado.
O mestre, percebendo a angústia do discípulo, falou:
- Filho! Agora que refletistes, deves ter percebido a intenção de minha atitude. Não há motivação maior que o exemplo. No nosso dia-a-dia, encontramos vários caranguejos andando por aí a esmo. A grande maioria deles não sabe o que faz e muito menos para onde está indo. Por isso mesmo, vivem apressados, tentando chegar a um lugar que não saberão onde é quando lá chegarem. E, não raro, lutam para permanecerem onde estão, por medo de mudarem de lugar ou receio do auxílio dos homens de boa vontade. Porém, a bondade e a caridade humanas são as armas que um verdadeiro guerreiro da luz deve usar, no sentido de alertar, advertir e aconselhar aqueles perdidos na ignorância da realidade e, até mesmo, se não perceberem que estão caminhando para a morte certa, deve-se jogar sobre eles o manto da realidade e mostrá-los finalmente, que o universo abarca homens que, por puro amor à perfeição da vida, insistem em ser mais que comuns.
Oi, Daniel! Sou sua mais nova seguidora, no blog né, porque na vida eu já te sigo há muito tempo. Adorei os seus escritos! Mas não me surpreendo, pois, são o seu auto-retrato. Quem te conhece sabe do que estou falando. Grande abraço a você e Déa.
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