Toda lagarta deve entrar em reflexão profunda dentro de si mesma antes de se tornar borboleta. Assim também é o ser humano!
Compartilho aqui, algumas das minhas reflexões!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A trilha de um homem só! - Parte 06





Quinta-Feira 26/08/2010
Acordei antes do Sol levantar. A lua ainda estava altiva no céu. Comecei a refletir sobre o que fazer no dia e, entre outras coisas, decidi que sairia da casa de Seu Jura depois do almoço e iria a Irecê ver meu irmão Geno e sua família.
Fiz meu G:. matinal e tratei de arrumar a mochila toda. Coloquei ela dentro da barraca, pois o orvalho matinal ainda estava presente e eu queria esperar o Sol sair um pouco mais para secar a barraca antes de empacotá-la. Comi um pouco, peguei o GPS e a câmera e fui tirar fotos dos 04 Santuários que eu havia achado anteriormente, mas não tinha levado GPS para marcar o ponto e nem câmera para registrar. Fui, fiz as formalidades, um G:., marquei no GPS  e tirei fotos em cada um deles. Na volta, já chegando, bati o joelho esquerdo numa pedra. Na hora estava ansioso para chegar no Santuário pois tinha vontade de fazer necessidades desde o início da subida. Essa batida me fez refletir sobre o meu estado de ANSIEDADE. “Pude observar mais uma vez que ela é uma péssima conselheira. É como um motorista imprudente que acelera onde não deve e sai tresloucadamente sem respeitar as leis. E, invariavelmente, acaba por causar dor a si e/ou a outros.” Cheguei, fiz o que devia, desarmei a barraca, arrumei a mochila e fui escrever. Me despedi então do Santuário e parti em direção à casa de Seu Jura. Eram 09h.
Fiz a despedida como planejado e saí em direção à cachoeira. Cheguei na verdade em outra cachoeira, no lugar errado; mas logo achei a entrada certa. Saudei o elemento ÁGUA e continuei andando. Em pouco tempo cheguei no descampado da casa de Seu Jura. Tirei fotos do Santuário, entrei e fiz um G:. voltado para a montanha do Guarda-Mor para me despedir e, novamente, fui agraciado com o reconhecimento da Mãe, Mestra e Serva NATUREZA. Foi um momento especial! 
“Esqueci de falar que na despedida no Santuário lá em cima, marquei minha presença e foi totalmente diferente da primeira vez que o fiz. Minha voz ecoou como se cada canto ao meu redor repetisse com intensidade minhas palavras, espargindo minha intenção aos 04 pontos cardeais.”
Fui à casa de Seu Jura e bati um bom papo com eles. Seu Deinho estava lá também. As paredes do silo estavam quase todas levantadas. Parece que foi ontem que saí daqui. Fiz um lanche, depois ficamos um bom tempo batendo papo e contando piadas. Falamos muito de alguns irmãos, contando histórias, etc. Almoçamos. Descansamos um pouco, depois fui tomar banho no rio. Tinha uma cobra d’água lá. No início deu medo e olhei para todos os lados para ver se não tinha outra. Lembrei então que não tinha saudado o elemento ÁGUA e prontamente o fiz. Acaso (que eu particularmente acho que não existe) ou não, ela subiu numa pedra depois desceu rio abaixo. Tomei mais coragem e confiança e continuei meu banho. Fui então escrever para depois seguir viagem para Irecê e encontrar meu irmão Geno.
Arrumei a mochila nas costas e me despedi de Seu Jura e Deinho que, pelo jeito, iam demorar apenas mais um dia para terminar a obra. D. Raimunda fez questão de me acompanhar até a entrada da trilha que dá em Catolés para que eu não corresse o risco de me perder de novo. Chegando no ponto determinado, nos despedimos e eu segui até Catolés. Antes, claro, fiz um G:. logo que ela saiu de vista para agradecer tudo até agora e pedir a orientação dos meus Guias e dos Elementais. Não demorei muito e cheguei em Catolés. Como sempre, passei dando boa tarde a todos, o que não era nem um pouco difícil, já que o que eu sentia dentro de mim era um amor forte, prestes a explodir e espargir para tudo e todos ao meu redor. Cheguei no carro, tirei a mochila e fui ligar do orelhão para Milton, que é o namorado da filha caçula de Seu Jura. D. Raimunda tinha dito que ele tinha uma encomenda que eu poderia levar para ela que estava em Salvador. Cheguei a ir na casa da mãe dele, mas não o achei. Algumas pessoas da rua falaram que ele estava na casa do tio e uma senhora foi lá chamá-lo. Ele veio e disse que a encomenda ainda não estava pronta e preferia mandar depois. Pedi para ele arranjar um pouco de água para colocar no limpador de pára-brisas do carro. Ele prontamente me atendeu. Agradeci e segui viagem.
Cheguei na BA-148, onde fica Piatã, mais ou menos às 17:40. Tinha que acelerar para não chegar em Irecê muito tarde. Primeiro por que não é bom dirigir à noite e depois por que amanhã é sexta e Geno e sua esposa Alessandra provavelmente iriam trabalhar cedo. Como a BA-148 não estava ruim, tive a oportunidade de acelerar mais. Antes de ela acabar, já anoiteceu. A estrada estava praticamente vazia. Olhei para o céu, e à minha esquerda, lá estava a E:.F:. marcando presença e protegendo seu obreiro.
Cheguei em Seabra às 18:45, liguei para Geno e avisei que estava indo visitá-los e que chegaria lá em 02 horas. Liguei para Déa e minha mãe, mas não consegui falar com elas. Mandei um SMS pra Déa informando que ia passar em Irecê, que estava com Saudades e que a Amava. Abasteci o carro e meu estômago (só um lanchinho) e segui viagem. O frentista do posto havia me dito que eram 150 Km até Irecê e que a estrada estava um “tapete”. Melhor ainda!
Segui em frente e passei por muitas cidades. Mesmo assim, na maior parte do caminho a estrada era sem ladeiras e realmente estava um “tapete”. Tomei todas as precauções para dirigir prudentemente à noite (farol alto quando não tinham outros carros, pisca quando passava ou ultrapassava alguém e muita atenção às placas).
Cheguei em Irecê com segurança às 21h. Na casa de Geno, além dele, de Alessandra (esposa) e de Paulinho (filho), ainda estava a mãe dele para me receber. Uma pessoa maravilhosa. Tomei um banho e desatamos a conversar e matar a Saudade. Eta família que eu gosto!!! Até quando estávamos jantando, não paramos de conversar. Foi muito bom ver meu amigo-irmão de longa data tão bem depois de tudo que ele passou. Ficamos conversando até 01 hora da madrugada de sexta. Realmente eu não poderia ter feito coisa melhor do que ir a Irecê vê-los. Eu sei que a verba estava apertada, mas para que serve o dinheiro senão para situações como essa? O que eram 50 reais a mais de gasolina por um reencontro como esse, que não acontecia há mais de um ano? Não tem preço!! Sem falar na surpresa de ver Paulinho enorme, que não tem nem 02 anos mas já conversa e tem uma personalidade firme. Uma figurinha!! Fui dormir depois de fazer um G:. de boa noite.

Sexta-feira 27/08/11
Acordei do sono dos justos. Bem cedo para quem tinha dormido apenas 01 hora. Acordei 07h e ninguém mais na casa estava acordado. Fiz meu G:. matinal e algumas orações. Fui para sala, e quando ia começar a aprofundar os exercícios, Alessandra acordou e foi fazer o café da manhã. Fiquei conversando com ela sobre como eles estavam após terem mudado para Irecê. Graças ao Pai, estava tudo realmente bem.  A empregada chegou logo depois. Geno acordou. Tomamos café conversando mais um pouco, depois ele foi para o trabalho e nos despedimos. Logo depois, me despedi de Alessandra, Paulinho e da empregada e também saí em viagem. Eram 08:40. Parei num posto logo à frente, abasteci o carro e saí decidido a parar só em Ipirá para outra reabastecida.
A viagem foi muito tranqüila. Estrada vazia. Tudo muito bom. Voltei refletindo que, assim como todo muçulmano deve ir a Meca uma vez na vida, todo ser humano deveria encher o tanque do carro e fazer uma viagem dessas. Sair por aí visitando as belezas da Natureza, sem é claro esquecer de visitar as Montanhas da Chapada Diamantina.
Parei em Ipirá por alguns minutos. Eram 12:10. Fui ao banheiro, abasteci o carro e comprei um lanchinho. Segui viagem o mais rápido que pude, pois Déa não tinha ido trabalhar hoje para ficarmos juntos.
O tempo voou. Cheguei em casa 14:09 e Déa já estava me esperando na garagem. Demos aquele abraço e aquele beijo de reencontro, pois depois de uma viagem dessas, acredito que nem uma pedra voltaria do mesmo jeito; quanto mais alguém que foi buscar entrar no casulo. Mas ainda falta muito para sair dele. A metamorfose continua. Devagar e sempre!!!

FIM, para um novo Recomeço

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A trilha de um homem só! - Parte 05

...Continuando a quarta-feira (25/08/10)



Eram 11:35. Já que hoje seria o dia da Onilateração, fui trabalhar. Saí da barraca e fiquei um bom tempo no exercício de O:. P:. P:. N:. Tinham vários mosquitos e moscas que pareciam estar ali para testar minha perseverança. Continuei. Deixei até que o mosquito picasse meu lábio superior, mas chegou um ponto em que eu percebi que a concentração não estava satisfatória. Entrei de novo na barraca e fui fazer AUTO-PERCEPÇÃO deitado. Quando me levantei, uns 40 minutos depois, minha mão estava dormente. Fui comer um pouco. Acho que vir aqui nessas condições seria um ótimo remédio para ansiedade. Se os psiquiatras soubessem disso...
A paz é tão grande e plena que até o ato de comer é delicado e parcimonioso. A gente realmente saboreia cada coisa, cada pedaço.
Ao acabar, alonguei um pouco, escovei os dentes e recomecei os exercícios. Primeiro fiquei um bom tempo com o exercício da Circ:. Cer:. e aumentei a percepção de mim mesmo.  Senti o bater do meu coração e minha respiração como se eu fosse os próprios órgãos correspondentes. Tive a sensação de poder alterar o bater do meu coração quando quisesse. Depois, aprofundei em mim mesmo, de novo em AUTO-PERCEPÇÃO, mas dessa vez sentado. – “Tem momentos que a gente esquece que está ali. É impossível explicar. O tempo parece que pára para que possamos observar tudo de dentro para fora. Acho que esses relatos servirão muito mais para que eu me recorde da riqueza dessa viagem, pois ninguém entenderá meus relatos, a não ser que tente por si mesmo uma viagem como essa.” Quando dei por mim, alonguei de novo, dessa vez de forma mais completa e fui fazer o exercício da A:. M:.. Sentei na posição mais confortável possível na pedra e fiz o exercício com uma folha bem bonita de uma planta na entrada do Santuário. Os pensamentos quiseram me assaltar de novo. Vinham as imaginações mais esdrúxulas , mas elas não eram maiores que eu. Percebi que tudo aquilo era uma tentativa de minha mente de me afastar da novidade para manter-se com imaginária segurança, presa ao que já conhece; fugindo do novo e tentando fantasiá-lo como conhecido. Lembrei inclusive do sonho que havia tido e me entreguei momentaneamente às imaginações, pois lembrei que, se lutamos contra as coisas e não as compreendemos em sua essência, essa coisa persiste mais e nos chama mais atenção por que “quer” ser compreendida. Afinal, “experiência não compreendida é experiência que há de ser repetida.”
Deixei-me levar e dei tempo ao tempo, afinal, eu somos eternos e temos todo o tempo do mundo, mas as imaginações só insistem até que apareça o novo. A ansiedade num momento desses, apenas nos atrasa, e desvia nosso foco perceptivo. E, finalmente, as imaginações foram embora. Me entreguei totalmente à relação com aquela simples e pequena folha na aparência. Mas percebi que, a cada instante que passava, ela se mostrava mais para mim. Eu percebia com detalhes, cada veio e ruga de sua superfície e, quanto mais eu aprofundava, mais claro eu via; não só a aparência, porém aquilo que vi da essência, não pode ser descrito, pois as lentes da matéria foram retiradas momentaneamente, para que a realidade se mostrasse de forma esplendorosa. Foi mágico! – “Tenho que lembrar de falar com minha esposa para botarmos plantas em casa.”
Depois, parti para o exercício de contemplação. Sentei o mais confortavelmente que pude e fiz o T:. da G:. com foco em uma pedra do paredão logo à frente. Mais uma vez a experiência foi ímpar. Comecei a ver tudo ao redor da pedra em tons de preto, branco e cinza. Bem parecido com a experiência que tive em Janeiro e havia perguntado ao Mestre se eram os ÉTERES formadores de tudo e ele confirmou. Parecia que essas pequenas partículas se moviam, vibravam em busca de um padrão, uma harmonia, que, em conjunto, se mostrava como aquela paisagem. Uma reflexão me veio de pronto e criei uma metáfora das pedras da montanha com a humanidade: “Quando a necessidade exige, placas tectônicas se chocam e o resultado são essas elevações montanhosas, feitas de terra, mas principalmente, de pedras. Algumas mais próximas do chão, outras lá no alto. O chão é onde elas ficam niveladas, em equilíbrio. As que estão no alto, normalmente estão conectadas a outras pedras ou à terra no alto, e não “querem” largar de lá. Mas as intempéries e contingências da vida levam essas pedras a quebrarem essas ligações e descerem montanha abaixo. Algumas descem tudo até o chão, outras se agarram firmemente a outra fonte de equilíbrio momentâneo e ilusório. Mas, nessas quedas, todas perdem um pouco de seus picos, suas asperezas; o que acontece também pela ação da vida, do vento, da chuva, do fogo, etc. Mas, se virmos e tivermos a possibilidade de medir, veremos que as montanhas sempre diminuem em altura para ganhar em largura e abranger todas aquelas pedras que um dia caíram, mas agora encontram-se em equilíbrio puro e pleno, cada vez menos ásperas, cada vez mais esféricas, cada vez menos pedras e cada vez mais energia.”
Vim então escrever a reflexão que tive. Mais uma vez pude provar que Deus, a energia consciente, perfeita que a tudo envolve, penetra e vivifica, está realmente em tudo. Do macro ao micro, tudo reflete Ele. E, se compreendermos profundamente uma coisa, compreendemos tudo. Mas isso para mim foi apenas uma parte. Preciso aprofundar mais. Fui fazer mais exercícios. Eram 16:15. Ah! Me empolguei tanto com a experiência que esqueci de contar a outra. No final do exercício, quando dei atenção mais profunda a mim mesmo, vi um bebê; não sei se menino ou menina, de cabelo preto, os olhos bem fechadinhos; e estávamos de branco, molhando os pés dele na água de uma vasilha de metal.
Comecei a fazer a EXPANSÃO. Expandi para todas as pessoas que vieram a minha cabeça. Foram mais de 100, muito mais. Tanto que demorei 40 minutos só nesse exercício. Vi que já eram 17:00. Liguei o rádio e testei. Não deu nada. Ou onde eu estou não chega sinal da casa de Seu Jura, ou eles esqueceram de ligar o rádio.  Para tirar a dúvida, desci até perto da cachoeira e nada. Depois, subi o outro lado do vale e fui até o topo. Nada de novo. Quase certo que eles esqueceram de ligar. Mais uma noite seremos Deus e eu no sertão... Mas dessa vez, parece que vem chuva. Tinham umas nuvens escuras vindo de nordeste e talvez cheguem aqui. Tratei logo de arrumar a fogueira. Se ela não acendesse por causa da chuva, eu ia fazer a comida no fogareiro, na varanda da barraca.



Esperei um pouco observando o céu. Foi tudo ficando bem escuro. As nuvens negras tomaram o céu enquanto a lua não aparecia. Se eu desligasse a lanterna, era breu total. Tratei logo de acender a fogueira, mas quem disse que ela queria pegar!? Não tinha um "pé" de vento passando e o fogo nem consumia a madeira toda e já virava apenas brasa. Eu soprava e abanava com a tampa da panela e só vinha brasa de novo. Eu afastei as brasas e madeiras um pouco da pedra para ver se o fogo melhorava, mas só melhorou um pouco. Fiz a saudação do elemento e melhorou pouco também. A solução foi encher de madeira e esperar o tempo passar.
Eu coloquei a panela logo no fogo e ele foi melhorando aos poucos. Quando eu percebi que a água ia ferver e fui na barraca pegar os mantimentos, começou a pingar. Eu guardei o que pude e tratei logo de colocar os mantimentos no fogo. Percebi que a chuva era passageira. Cozinhei tudo, tirei fotos como prometido e comi na porta da barraca. Uma Delícia!!! Miojo aos 04 queijos com atum!! Hehehehe!! Esse tipo de comida na montanha a gente come rápido por que esfria num piscar de olhos. Depois, fiz um G:. de agradecimento e fiquei cuidando do fogo. Fui escrever. Comecei às 20:26. Fui fazer mais alguns exercícios psíquicos e fui dormir. Ouvi músicas enquanto me entregava aos exercícios, mas só as reflexivas! Hehehe!
“Caí no sono ouvindo as músicas. Quando a atenção reina, é incrível a diferença na hora de ouvir músicas. Quando estamos ouvindo no carro, dirigindo, só prestamos atenção na voz do cantor, nos solos e olhe lá. Mas aqui, no silêncio e paciência, onde o que reina é a atenção a uma coisa de cada vez, tanto o ato de escrever sai melhor e sem pensar muito (parece que a mão escreve sozinha), quanto, nas músicas, conseguimos ouvir cada instrumento, cada detalhe, desvendamos cada palavra, principalmente em inglês, que às vezes é difícil de entender ao ouvirmos no carro. Da até para imaginar o rosto da pessoa cantando, com a boca fazendo cada movimento ao cantar. Além disso, no carro, quando uma música está acabando, às vezes a gente muda logo para outra para não ouvir a finalização. Aqui a gente tem atenção para ouvir tudo, do início ao fim, como se fôssemos nós executando a música.”
Quando dormi, mais uma vez sonhei com muita gente. Gente até que eu não falo há muito tempo como um amigo da Pituba (onde eu morava). Ou até uma colega do 3˚ ano que nem era muito chegada e eu hoje nem sei onde está. O irmão dela no sonho tinha os olhos da cor dos dela e namorava uma outra amiga minha (C.). Nos sonhos eu estava sempre tentando ajudar alguém. Consegui ajudar meu amigo com os problemas que ele tinha  e outras mais. Mas algumas pessoas eu não tinha o que fazer. Como, por exemplo, C.. Ela e suas amigas pareciam não querer sair do estado psíquico em que se encontravam. Sonhei também com H. e T., grandes amigos, irmãos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Não agir é o mesmo que agir mal

Caros amigos,

Peço licença a vocês para interromper os relatos de minha viagem para uma reflexão que acredito ser deveras pertinente.
Hoje, domingo, 06 de fevereiro de 2011, estava voltando de Santo Antônio de Jesus para Salvador. Tinha ido lá para visitar os parentes de minha esposa, que nasceu lá.
Estava na BR-101, mais ou menos uns 10 km depois da ponte da barragem de Pedra do Cavalo. Eram mais ou menos 18:30. Fiquei atrás de um carro, uma pick-up de carroceria fechada.
O carro bambeava para um lado e para o outro. Eu comentei com minha esposa que o motorista poderia estar bêbado, mas parecia que ele levantava a mão. Parecia estar discutindo com alguém. Ficamos na dúvida, mas percebemos que parecia não haver ninguém no banco do carona.
O carro ia de um lado para o outro. A luz de trás estava queimada. Decidi me afastar um pouco. Os carros que estavam atrás de mim, pareciam não entender e davam sinal de luz para eu sair da frente ou acelerar. Eu saí da frente e um deles me ultrapassou. Quando ele foi ultrapassar a pick-up, ela quase bateu no carro que o ultrapassava.
Eu logo pensei:  - Assim que passarmos pelo posto da Polícia Rodoviária Federal, eu vou avisar para que parem o carro.
Quando chegamos perto do posto da PRF, eu reduzi e fiquei olhando para ver se via algum policial, mas não consegui ver nenhum do lado de fora do posto e acabei passando. Uns 200 metros na frente eu falei: - Que irresponsabilidade! Eu tinha que ter parado.
Logo depois, passamos por uma ponte e a pick-up quase bateu no guard rail. Quando desviou, quase bateu num carro na pista oposta. A colisão só não ocorreu por que o carro que vinha, desviou de forma brusca. Eu já estava pensando de novo em algo para fazer, quando vi, mais uma vez, ele dirigir-se para o acostamento da pista. Então, a luz do freio dele acendeu e eu pensei: - Meu Deus!!! Ele atropelou alguém!!!
Depois disso, só vi uma sandália havaianas branca sair pelo fundo do carro e depois a pick-up pulando por cima de algo. Logo depois da sandália, o que apareceu foi o corpo de uma mulher rolando até a grama no acostamento. A pick-up então acelerou. Eu prontamente parei o carro. Falei para minha esposa ligar para alguém, liguei o pisca-alerta e saí correndo em direção à mulher já meio sem esperança devido ao que eu tinha visto. Cheguei perto e percebi que ela não mais respirava e estava sem sinais vitais, com ambos os braços e pernas contorcidos e a cabeça torta.
Mesmo para um estudante de medicina do sexto ano, que é o meu caso. Mesmo passando por 06 meses de estágio no HGE. Nada compara-se à sensação que tive na hora. Principalmente a sensação de que eu poderia ter feito algo para que aquilo não tivesse acontecido. Na hora eu só não chorei por que a adrenalina estava explodindo em mim. A frase “Eu fui irresponsável!!” não saía da minha cabeça. Voltei correndo para o carro e chegando perto, vi uma pessoa vindo de bicicleta. Informei o ocorrido e pedi para que ele avisasse a polícia. Ele disse que ia correndo até em casa, pois ele morava perto e ligaria para a PRF.
Eu lembrei então que passamos pela PRF havia poucos quilômetros. Falei para minha esposa entrar no carro e dei a volta. Chegando lá, os policiais tinham acabado de receber uma ligação informando o ocorrido. Eu então dei as características e a placa da pick-up e tentei me acalmar. O problema é que só tinha uma viatura da PRF e um meliante estava sendo mantido algemado no fundo dela. Eles estavam se arrumando para levá-lo a uma delegacia ou algo do tipo. Não poderiam ir atrás da pick-up. Eu e minha esposa saímos do carro e estávamos nos acalmando.
“A sensação era muito ruim. A frase “Eu fui irresponsável!!” continuou latejando em minha cabeça. Principalmente por que eu comecei a lembrar de um debate que havia participado na quarta-feira, em que discutimos um texto intitulado: “Aconselhar e não julgar”. No texto, se falava que deixar de aconselhar alguém que está caminhando para algo perigoso, é essencialmente o mesmo que julgá-lo. Um exemplo bom disso é uma criança que está brincando de andar sobre um muro ou algo do tipo. A irresponsabilidade que se tem de não avisá-la de sua situação perigosa é a mesma de quem a trata com desdém ao avisá-la de sua situação, julgando-a burra, mal-educada, inconseqüente, ou algo que equivalha. Em ambos os casos, estaremos jogando-a muro abaixo, a diferença pode estar apenas em quanto tempo isso demore para acontecer, o tamanho da queda e  de que muro ela cairá.
Ou seja, deixar de agir, é tão ruim quanto agir de forma errada!
Mais uma vez, o equilíbrio mostra-se como a mola mestra para que possamos viver de forma harmônica no nosso dia-a-dia.”
Enquanto estava lá no posto da PRF, o policial que havia ficado no posto ainda recebeu mais uma chamada de rádio informando que já tinham ligado sobre o mesmo carro, com a mesma placa e características entrando no distrito de Humildes cambaleante. Depois, outro rádio informando a confirmação da fatalidade da moça e solicitando o rabecão.
Perguntei ao policial se ainda poderia ajudar em algo. Ele me respondeu que não e seguimos viagem para Salvador.
No caminho, a frase ainda continuava latejando. E eu pensei exatamente que estava sentindo culpa por não ter parado e avisado ao posto da PRF sobre a pick-up.
Nossa mente, para fugir da culpa, tenta logo justificar. Me veio na cabeça e minha esposa também falou que, se tivéssemos parado para avisar a PRF, não teria adiantado, pois o acidente ocorreu 1 ou 2 quilômetros depois. Não haveria tempo de parar, chamar os policiais e fazer a diligência para pegar a pick-up. Até por que, nem sabíamos se eles iriam acreditar em nós e saírem para pegar a pick-up.
Porém, os acontecidos do futuro não influenciam na avaliação que fazemos de uma decisão que tomamos quando não sabíamos o que ia acontecer. Que eu deveria ter parado, é um fato. Porém, devemos assumir a responsabilidade pelos nossos atos e não nos sentirmos culpados. Há uma grande diferença nisso! A culpa não ajuda, apenas nos maltrata e, muitas vezes, impede que levemos nossas vidas de forma natural. Se ela existe, é por uma razão, mas é algo que prefiro escrever sobre em uma outra oportunidade.

O que aconteceu foi uma fatalidade, mas aconteceu. E, como diria o nosso grande Chico Xavier: Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim!”

Eu então comecei ali a fazer um novo fim. Fui até quase Salvador em meditação dinâmica, pleno silêncio externo e interno. Atento à estrada, mas também atento a mim mesmo. Me conhecendo naquela agonia, naquele princípio de desespero, naquela adrenalina. Principalmente, me perdoando pelo que deixei de fazer, para só assim poder levar a vida em frente de forma digna e responsável, cada vez mais atento, cada vez mais Eu! Entrando no casulo para sair uma nova borboleta. Matando quem eu era e sendo cada vez mas o Eu Sou,  pois, como diria um grande mestre: “Ser virtuoso é querer viver sempre morrendo momento a momento, todos os dias.”